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06-06-2002 -
Noticia |
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Segurança 06 -
Concentração e percepção II |
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Já estabelecemos a
importância da concentração como condição básica
para uma boa percepção (recolha de informação),
sendo esta a que nos vai permitir na fase
seguinte efectuar os raciocínios suficientes a
elaborar todas as escolhas e decisões
necessárias à condução. Muitos factores
condicionam a qualidade da concentração e
consequentemente da percepção. Vamos deter-nos
uns instantes neles.
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Estados de
alma – a nossa disposição varia conforme seja de
dia ou de noite, o dia ou a noite anterior nos
correu, as nossas condições de vida, enfim, toda
as condições que nos são envolventes. Ao montar
para a nossa viagem será bom deixar no
escritório, na fábrica, em casa, todas as causas
de ansiedade que se podem revelar negativas à
condução. A ansiedade que queremos é apenas a
que resulta da consciência da nossa
vulnerabilidade, cerca de 35 vezes superior à
dos automobilistas, e das dificuldades da
condução, ou seja, a quantidade certa de
ansiedade que nos permite estar constantemente
alerta para a condução. Nenhuma ansiedade também
se revelará prejudicial pois leva ao
amolecimento dos sentidos, à distracção, à
quebra de concentração. Este nível de ansiedade
óptimo é possível de manter através da
consciência que desenvolvermos durante o
trajecto. Trocando por miúdos, se ao longo de
todo o trajecto não dermos férias ao cérebro
estaremos sempre conscientes de que estamos a
recolher informação, a processá-la e a efectuar
escolhas. E esse estado de consciência, em
contínuo, permite-nos continuar conscientes e
alerta. Se, em dado momento, nos pusermos a
pensar em outro assunto estranho à condução, num
ápice estamos distraídos e já não estamos a
escolher e o destino escolherá por nós. Aquela
ideia que às vezes temos de sair a dar umas
curvas para espairecer depois de uma discussão
com o pai, a mãe a namorada, o namorado, o
marido a mulher um filho ou outro qualquer não
é, de todo, a melhor das ideias. A não ser que,
de facto, consciente e voluntariamente a
discussão seja arrumada na parte de trás do
cérebro e a condução e as suas exigências nos
ocupem por completo, assim servindo de lenitivo.
Álcool – É de
facto pouco original falar dos malefícios do
álcool e pode revelar-se maçador, especialmente
num país produtor de óptimos vinhos e onde o
calor convida à cerveja. Não obstante, o facto
de ser chato não obvia que seja verdade. Podemos
aguentar muito bem o álcool e ser capazes de
ingerir quantidades impressionantes de bebidas
alcoólicas (já fiz disso, agora já menos) mas o
que é verdade, infelizmente, é que o álcool
afecta de forma absolutamente determinante os
nossos sentidos, mormente a visão (perde-se a
periférica e a central fica reduzidíssima), a
concentração, a capacidade de raciocínio, a
coordenação motora. Não é que, após a ingestão
de umas quantas canecas eu já não veja, já não
pense e já nem me mexa. Mas nós sabemos que para
conduzir uma moto não basta simplesmente ver
alguma coisa, pensar um bocadinho e conseguir
montar na moto. É preciso bem mais e quem não
aceitar isso e os sacrifícios que implica,
então, o meu conselho é: não ande de moto. E não
é só pelo motociclista. É por quem pode matar.
Cansaço – a
fadiga, quer corporal quer mental joga um papel
importante na nossa capacidade de concentração.
As longas viagens, a falta de horas de sono
suficientes, a tensão do trabalho, influem de
modo muito sensível na nossa fadiga. Quando a
fadiga ataca não há como fugir-lhe. Se for
apenas muito leve uma paragem para esticar as
pernas e respirar fundo e beber algo quente pode
ser a solução. Se for mais do que isso um espaço
de sono torna-se obrigatório. E nem pensar em
disfarçar com café, Coca-Cola ou excitantes
porque embora nos possam impedir de dormir e nos
coloquem num estado de certo nervosismo, não
retiram os efeitos entorpecedores da fadiga
sobre a consciência e o estado de alerta. E
conduzir com as capacidades em baixo...
Longas viagens por itinerários monótonos
– não há melhor sedativo que uma estrada com
pouco relevo, curvas inexistentes e muitos
quilómetros para percorrer. O Alentejo é lindo
de se ver... numa estrada camarária. De
auto-estrada, por exemplo, pode ser um autêntico
sacrifício. Podem, obviamente contestar que para
a monotonia não há como acelerar aos 200 ou 300
km/h (ninguém dorme a essa velocidade). E eu
pergunto, para além de “ligeiramente” ilegal não
é também muitíssimo perigoso?
Medicamentos –
muito cuidado com medicamentos. Muitos têm como
efeito a sonolência constando nos seus folhetos
como contra-indicação a condução de máquinas. É
claro que se estiver doente, pois tome os
medicamentos prescritos pelo médico. Mas não
saia de moto.
Desconforto – Não há nada
mais cansativo e desconcentrante que o
desconforto. Frio, calor, chuva, vento, uma
postura inconveniente sobre a moto, tudo causas
de desconforto e, consequentemente, de desgaste,
de cansaço, de fadiga, e sempre de
desconcentração e de entorpecimento. Estas
serão, eventualmente, as causas que mais
facilmente se combatem. Falaremos delas noutro
texto.
Jorge
Macieira
Advogado, Mediador de Conflitos e motociclista
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