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22-07-2002 -
Noticia |
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Segurança 17 -
Raciocínio e prevenção |
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Continuando a nossa
viagem, se temos que, em boas condições físicas
e psíquicas, moto bem mantida e inspeccionada,
concentrados, seguimos na nossa recolha e
prestação incessante de informação e tudo
tentamos ver, como acto lógico e consequente de
todos os anteriores, seguimos raciocinando como
processo de formar as nossas opções de condução
em cada momento para depois as por em prática.
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Ora, sendo o
alimento do raciocínio primordialmente a visão
(a tal visão direccionada para qualquer fonte de
perigo) essa informação será tratada não apenas
tendo em conta o seu valor facial mas também à
luz de toda a nossa experiência e saber. Tem
isto a ver com prevenção. Se, de noite,
divisamos um alo de luz no topo de uma lomba
percebemos que um veículo se aproxima do lado de
lá, mesmo antes de o vermos efectivamente. Se ao
passar junto a um autocarro imobilizado numa
paragem divisamos um par de pés naquele espaço
livre mesmo a seguir à roda da frente por baixo
do veículo, imediatamente adivinhamos a presença
de um peão e a sua intenção de atravessar. São
isto relações mentais que estabelecemos de forma
automática ao jeito de um qualquer cão
pavloviano. Mas trata-se também de uma
habilidade que pode e deve ser exercitada por
forma a que se desenvolva.
Assim, se
paralelamente à estrada em que circulamos se
encontra uma linha de comboio será razoável
supor que mais tarde ou mais cedo a nossa
estrada se cruzará com ela, eventualmente,
descrevendo uma curva apertada. Se aparece
sinalização de bomba de serviço é razoável supor
que nas suas imediações poderemos encontrar
vestígios de combustível ou óleo na estrada e
movimento de veículos entrando e saindo. Se na
auto-estrada surge o aviso de acidente nos
placards será razoável esperar constrição
no trânsito, carros abrandando ou mesmo parando
na berma. Se antevemos entrar num troço de
estrada arborizado é lícito esperar pequenos
ramos e folhas na estrada (e se for de
manhãzinha cedo, humidade no solo) deformações
do asfalto provocadas pelas raízes, assim como
animais atravessando a faixa de rodagem. Se
circulamos num bairro residencial calmo é de
esperar crianças a correr atrás de bolas ou
montados em skates ou trotinetes, cães,
ciclistas de domingo, condutores distraídos
procurando a casa do amigo ziguezagueando.
O primeiro
truque é treinar o pensamento. Acumular saber é
bonito e devemos praticá-lo. Não é demais
aconselhar a leitura de livros e artigos, o
visionamento de filmes e a mais antiga forma de
transmissão do saber – conversa com os mais
experientes – mas pôr essa experiência, própria
e alheia, em prática raciocinando sobre todos os
indícios que a estrada e a sua envolvência nos
proporcionam é que nos mantém um passo à frente
da desgraça.
O segundo truque é treinar
as reacções. É consabido que perante uma
situação de emergência ninguém se põe a
inventar. A reacção instintiva é a que estiver
gravada no subconsciente. A primeira reacção de
99,99% dos motociclistas, perante um obstáculo
por exemplo, é travar. Ora, se não souber travar
correctamente não é naqueles centésimos de
segundo de aperto que vai aprender. Se a
necessidade for de evitar o obstáculo curvando,
mas não souber curvar em aperto, o que vai
suceder? Claro, acidente. Como dizem os
anglo-saxónicos “a prática faz a perfeição”. Por
isso, antes de ir a correr ao Cabo da Roca
mostrar a moto nova, faça-se a ela. Treine a
condução, a aceleração, a redução, a travagem.
Lembrem-se
sempre que, naqueles momentos únicos de aflição,
vão estar realmente aflitos, a capacidade de
raciocínio diminuirá e a cabecinha optará
sempre, mas sempre, pelo que souberem fazer. Se
não souberem fazer nada, ou pior, se viverem na
ilusão que sabem tudo, temos o caldo entornado.
Jorge
Macieira
Advogado, Mediador de Conflitos e motociclista
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